sábado, 30 de abril de 2011

Provas

"Os nossos olhos tentadores insistem em querer provas. "Se não vir não acreditarei". Ontem como hoje o dilema é o mesmo, ver para crer. Depois vemos e voltamos a ver e não vemos nada porque o que se pode ver é pouco para crer e não cremos. Ver para não crer, assim se devia dizer. À custa de tanto ver não cremos já em nada, porque aquilo que há para crer não se vê e o que se vê não é para crer. As provas que os nossos olhos querem, exigindo, de todas as formas e nunca estão satisfeitos, são aquelas que não se vêem, mas tentam-nos a querer, também exigindo, ver para crer. Não cremos porque não vemos. Para crer é necessário ver sim, mas de dentro. O olhar que se lança de dentro para fora não vai dirigido ao exterior das coisas, da vida e do mundo. O olhar que lançamos de dentro de nós atinge toda a realidade no seu interior, no mais profundo, no para lá do que os olhos podem ver e, aí sim, crê. Crê no que vê sem ver e não vendo ainda, crê, porque sem ver sabe que não se engana. É esta a experiência da fé que nos faz ver para lá das ligaduras, do túmulo vazio, do corpo desaparecido. Ver para lá de todo o estímulo material e visível da realidade. Para este crer não fazem falta provas."



Manecas