quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Seguir

Seguir pelo caminho mais difícil é uma aventura que não sabemos onde começa nem onde acaba. Perante esta incerta certeza admira-me que ainda haja quem queira seguir por este caminho. Na realidade, não é um caminho de adrenalina no sentido moderno da palavra. É sim, um caminho de surpresa permanente. Ali onde os pés assentam no terrena plano e suave levanta-se de surpresa a maior obstáculo que pede para ser ultrapassado. Onde se elevam as altas montanhas surge a surpresa de um caminho novo, tranquilo e feliz. Nada é como se quer e nada aparece como o vêem os nossos olhos. Diante de nós configura-se uma realidade totalmente outra que nada tem a ver com o que os nossos olhos conhecem nem com o que as nossas mãos se habituaram a tocar. Diante de nós uma nova paisagem que se mostra tudo menos fácil e tudo menos impossível. Como definir o que não se conhece e descrever o que não se vê. Como falar do que não se tem e mostrar o que ainda não chegou. Só no fim se conhecem bem todas as coisas e no à chegada se pode contemplar a partida. Que mistério este da incerteza que se arrasta na única certeza do caminho. Que mistério este que do pó faz caminho e das certezas faz pó.

domingo, 27 de janeiro de 2013

Só o amor pode dar a vida

O preço do amor é o mais elevado que se pode pagar. Perceber a vida sem arriscar perdê-la é não perceber a vida e não vivê-la. Não há nada mais importante que o amor e, no entanto, é precisamente o amor que nos leva a vida. Quem não ama não dá a vida e quem dá a vida dá-a por amor. Guardar para si é ficar só, pobre e morrer sem vida porque é viver sem amor. Nada há de mais valioso que a vida nem preço mais elevado que o amor. Cada um só tem o que pode pagar e só paga aquilo que deseja. Por isso, só dá a vida quem tem amor para pagar e só paga com amor aquele que deseja dar a vida. Todas as coisas se desvanecem no horizonte do esquecimento excepto o amor que paga a vida e a vida que se dá por amor. A eternidade não é outra coisa que a vida transformada em amor e o amor transformado na plenitude da vida. A plenitude é a altitude da doação e só alcança o ponto mais alto quem vive e morre por amor. Não há outro preço, não há preço mais alto. Nada se pode comparar à alegria de quem morre por amor.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Se quiseres


 
Porque é tão caro o que é gratuito? Desperto sonolento com o pensamento no gratuito da vida. Assalta-me a atroz consciência de que é fácil comprar e vender mesmo quando se tem pouco dinheiro. Tudo nos chega às mãos de mil maneiras e sempre a comprar e a vender. Reclamamos mas compramos e compramos sem pensar. Muito ou pouco, a verdade é que todos os dias alguma coisa nos cai nas mãos, fruto desse ato inconsciente de comprar e vender. Inconsciente, sim. Já não pensamos. Compramos, pagamos, levamos para casa. Às vezes ainda reclamamos achando que é caro, mas logo, logo, já passou e esquecemos. No entanto, quando chega a oportunidade, e ela chega todos os dias de mil maneiras diferentes, de realizar um gesto gratuito, começamos a pensar se devemos ou não devemos fazer, se o outro merece ou não merece, se é esta a oportunidade ou se deixamos para amanhã. A maior parte das vezes fechamos as mãos, calamos o coração, desviamos o olhar, desculpamo-nos com as nossas dificuldades, hibernamos o amor, pactuamos com o egoísmo, dispersamos simplesmente e torna-se tão caro o gesto gratuito, que não temos capital suficiente para o realizar. Entretanto ouvem-se vozes a gritar: "Se quiseres podes..."