sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Fazer o quê...


Fazer o quê de todo este mel,
Do crescendo das tardes em ouro, pólen e Verão,
Se a vida é, afinal, sempre e só
Dos outros, afinal, sempre e só
Transformada em vala comum,
Onde tentar o bem nosso
Pelo bem dos outros
Já não é sequer o mal menor,
Cansados de mais, brutos de mais,
Nós mesmos de mais,
Sempre morais numa impossível
E exaltada falta de paciência,
Numa pressurosa falta de ternura,
Nós sempre tão corredios,
Sardónicos até nos estertores,
Impérvios a essa música que nos tece
Perdidos em pleno espaço?
Há ainda um risco para nos salvar
De toda esta segurança,
Do geométrico, bancário, ergonómico
Acomodar-se da alma,
Do espírito flácido e famélico,
Algo que nos possa restituir
O gosto dos dias,
Esse que teremos na boca
Em hora extrema, ainda o gosto dos dias?
Qual o gosto dos meus dias?

Nuno Rocha Morais
"Últimos Poemas", Quasi, 2009

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Ninguém é perfeito



Havia um pensador que não tinha tempo para estar com as pessoas, porém, havia sempre muita gente a viver com aquilo que ele pensava por todos. Ninguém é perfeito.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Da verdade



Da verdade do amor se meditam 
relatos de viagens confissões 
e sempre excede a vida 
esse segredo que tanto desdém 
guarda de ser dito 

pouco importa em quantas derrotas 
te lançou 
as dores os naufrágios escondidos 
com eles aprendeste a navegação 
dos oceanos gelados 

não se deve explicar demasiado cedo 
atrás das coisas 
o seu brilho cresce 
sem rumor 


(José Tolentino Mendonça)