terça-feira, 31 de julho de 2012

Arvóres



Horas mortas... Curvada aos pés do Monte 
A planície é um brasido e, torturadas, 
As árvores sangrentas, revoltadas, 
Gritam a Deus a benção duma fonte! 

E quando, manhã alta, o sol posponte 
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas, 
Esfíngicas, recortam desgrenhadas 
Os trágicos perfis no horizonte! 

Árvores! Corações, almas que choram, 
Almas iguais à minha, almas que imploram 
Em vão remédio para tanta mágoa! 

Árvores! Não choreis! Olhai e vede:
Também ando a gritar, morta de sede, 
Pedindo a Deus a minha gota de água! 

Florbela Espanca

sexta-feira, 27 de julho de 2012



"Não há mais fé ou menos fé, ou se tem ou não se tem. A esperança, sim, pode ser mais ou menos intensa. Como crente que sou acho um estado de espírito incomparável com um sentimento."

sexta-feira, 20 de julho de 2012

O direito ...



Há o direito das coisascontra nós,mais fiéis que nóse transmudadas em símbolo,familiares do santo ofíciode recordar, móveis de tribunal,soturnos, a dizer as nossasfaltas ao somda madeira que estalana casa vazia e nocturnaou num armazémonde vos fechámos para roubaro direitoque vos assiste contra nós.

Pedro Mexia

sexta-feira, 13 de julho de 2012

É chegado o momento




Que tempo é o nosso? Por onde caminhamos e para onde vamos? 
Talvez tenhamos chegado ao momento, como disse Jesus, das “pedras falarem” ou, como D. Helder Camara , dos “galos cantarem”:Tão escuro ainda!E as horas se arrastando...Não haverá perigoDe a NoiteEmendar com a Noite?Galos todos,Que despertais a Aurora,Cantai!Mais alto ainda!É terrível!Quando a própria MadrugadaNão despertaE não nos desperta!

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Faz o que quiseres...



"Faz o que quiseres, belo Instante! Alma, cumpre o teu dever! Haverá esperança mais pura, diamante tão denso que possa reter o raio que na sua perfeita estrutura penetre, haverá parcela de matéria ou de vida no mundo mais preciosa do que este momento de presença e de silêncio na unidade das nossas forças e acima do nosso espírito, e que precede todo o pensar?"

Paul Valéry